terça-feira, 28 de julho de 2009

A Oração do Espelho

Aleluia! - Disse o irmão.
Que pena dá a fé na penúria
Sem segurar a hipócrita fúria
De tuas razões sem razão.

Desprezo ver-te em crença
Estando de costas ao altar.
Negas, pois, assim teu morto par:
Não lhes é permitido pecar em sentença.

Oras por tua própria consciência,
Fatualmente negas a própria cristandade;
Tu que falas - e na verdade
Mais ainda pecas, com zumbis em conivência.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Maria Joaquina

Magno ser, que dizes hoje para mim?
Grande faca do mugido, que sobra só a gemer
Se sou um dos poucos demônios assim:
Elegantes, deste inferno do descrer.

No alto mar, que isola quaisquer lembranças
Aturando o outro pensamento que, de tão leve,
Leva embora. Matanças morais, lambanças
Não desfaz o véu que sinaliza à plebe.

Maria Joaquina, que desde menina,
Foi presa sem dó nem piedade, por teu Pai
Que usurpou-a do direito de pensar sua sina
Obrigando-a negar a si, enquanto distrai.

Somatório de todas as coisas, prestes
A responder prontamente tuas questões.
Arrancando brutamente tuas vestes,
Banindo qualquer desejo, sem perdões.

Mas és criação, não criatura nem criador,
Partiu de manto que se desfez. Como a Maria,
Recobro-me a lucidez, amando-me sem dor
Mas não aos homens, como vossa criação o faria.