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sábado, 21 de julho de 2012
Das tradições
Freqüentemente observamos alguém defendendo algum ritual, evento ou costume baseando-se no argumento dogmático da "tradição". Como se apenas o fato de ser antigo e costumaz, pudesse ser referendado e legitimado como algo justo e/ou ético. Mas, como tudo que seja dogmático, essa alegação não se sustenta por muito tempo quando questionada.
Na tradição da tourada, o boi é torturado, ferido e sucumbe por muito tempo até a exaustão, quando acontece o golpe final.
Algo
que é mau jamais vai tornar-se bom somente através da repetição e do
tempo. Precisamos cultivar boas tradições para evitarmos causar ainda
mais dor e sofrimento no mundo. As tradições não possuem um valor
intrínseco e não tornam-se éticas tão-somente por serem antigas. Temos a
capacidade de escolher e moldar sob quais tradições penderá a cultura
dos nossos descendentes no futuro.
A circuncisão das crianças judias e algumas muçulmanas; as touradas, rodeios e outros tipos de pseudo-esportes baseados na tortura e no sadismo; a mutilação dos órgãos genitais das mulheres muçulmanas (e, na África, também de algumas cristãs); entre outras "tradições" jamais tornar-se-ão morais apenas por serem rituais antigos. Ao contrário, alguns costumes primitivos que venceram o tempo precisam ser revistos sob a luz da razão e evoluir com ela; o que significa a extinção de comportamentos bárbaros. Assim como foram vencidas as "tradições" da escravidão, mesmo com o forte apelo da Igreja Católica contra a abolição e dos torneios da morte no antigo coliseu de Roma, que era reverenciado pelo próprio Estado. Passada a fase, ninguém em sã consciência desejaria a volta desses costumes.
Não há um valor moral em si que seja conseqüência da repetição de um ato bárbaro, não é razoável conceber que apenas o tempo seja capaz de legitimar algo primitivo e repugnante como aceitável e ético. Os valores precisam estar permanentemente sob o crivo do princípio da razão e à luz da ciência para que possamos reunir condições de aumentar as possibilidades de felicidade e diminuir a dor das criaturas do mundo, já que a existência é inevitável a partir do momento em que a mesma é factual. Então, façamos valer a pena.
Para Nietzsche, a Filosofia é uma espécie de poesia. Segundo Raphael Monteiro Tenorio, "a poesia é extremamente racional na medida em que a razão é demasiado poética". A Filosofia tem de ser encarada de forma prazerosa, ainda que pesada e profunda; ela pode fazer muito por nós, desde que nos entreguemos às suas entranhas. Algumas vezes, faz-se necessário o atributo da coragem para submergir nos caminhos da Filosofia, contudo em contrapartida nos sentimos agraciados com os prazeres e a qualidade de vida que ela proporciona. Todavia, nem tudo que será publicado nesse espaço será filosófico ou poético.
O documentário acima é baseado no livro "Libertação Animal", de Peter Singer. A base ética e epistemológica, por sua vez, encontra-se no livro "Ética Prática", do mesmo autor.
"Enquanto o homem continuar a destruir impiedosamente os seres vivos, não conhecerá a saúde e a paz. Pois enquanto os homens massacrarem os animais, matarão uns aos outros. Realmente, aquele que semeia morte e dor não pode colher alegria e amor".
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