É imperativo que percebamos Marx como homem do seu tempo, o que significa enxergá-lo antenado às urgências de sua época. A história não engessa jamais, e a filosofia precisa caminhar em igual sintonia para que possamos extrair o máximo de suas experiências sem deixarmos de lado as peculiaridades de nosso tempo.
Marx, visto como um teórico do capitalismo, é talvez a figura mais importante na história recente da Filosofia Política, engendrando-se pela Economia e Sociologia. Seus estudos influenciaram diretamente a nossa história como Filosofia pragmática, voltada para os resultados de suas especulações, além de meramente devanear sobre a realidade das coisas. Marx apontava a necessidade de transformarmos a história, muito além de descobrir e decifrar os mistérios das questões fundamentais da vida. Talvez, em nossa história recente, nenhum outro homem tenha tanto influenciado nossa geopolítica de forma tão intensa quanto o nosso pensador, e o estudo das teorias que influenciaram fortemente nossa história se torna mais que uma opção – torna-se necessário para entender o mundo no qual vivemos hoje.
Apesar de que todos são frutos de seu próprio tempo e para ele estão voltadas suas atenções, o pensamento marxiano é dotado de uma mobilidade para além de seu tempo, o que torna a sua obra completamente viva mesmo depois da derrocada do muro de Berlim. O capitalismo continua com força suficiente para nos valermos das proposições de Marx e, ainda que modificado e enfraquecido, continua alvo de nossa crítica, pois uma vez desenvolvido o marxismo, tanto ele quanto seu objeto de estudo – o capitalismo – tornaram-se interdependentes.
O capitalismo mudou dos tempos de Marx para cá. Ganhou aspectos socialistas de alguma forma, como os movimentos sindicais, e noutros casos tomou certas conquistas como suas – como a democracia e a idéia moderna de liberdade; não filosoficamente, de difícil interpretação e impossível definição, mas liberdade no sentido mais lacônico – aquela “liberdade” que joga imediatamente uma idéia na mente, mas que ninguém define com clareza se perguntado. Elementos do que se compreende hoje por democracia, erroneamente atribuídos ao liberalismo, quando na verdade foram pegas “emprestadas” do socialismo, que teve na emancipação do homem as suas prerrogativas básicas, tal emancipação vista como um dos estágios finais de seu desenvolvimento.
É fundamental separarmos o marxismo do “comunismo” que foi aplicado na União Soviética, por mais estapafúrdio ou estranho que isso possa parecer. Isso por que os soviéticos se apoderaram de elementos marxistas para o desenvolvimento de seu Estado, todavia, apoderaram-se da alcunha de “socialistas” e/ou “marxistas” de maneira indevida, já que o stalinismo, por exemplo, se aproxima mais da tirania do que do marxismo. O que aconteceu na União Soviética é vista pelos estudiosos de Marx como algo que não deva ser levado em consideração sob o aspecto científico, enquanto experiência marxista – o que supõe obviamente que o marxismo ainda é uma experiência a ser contemplada pela primeira vez.
Vista sob a ótica filosófica heraclitiana da mobilidade, ficamos numa enrascada tremenda: ao mesmo tempo em que precisamos adequar o marxismo às novas realidades, precisamos não fugir de preceitos básicos para que continue sendo “marxismo”, ou melhor, “comunismo”, e não outra coisa qualquer que se apodere de suas máximas e de suas alcunhas por mera vantagem propagandística, e talvez seja difícil tentar adequar o marxismo à atualidade sem fugir do que o caracteriza sem parecer contraditório.
Marx vê a Revolução Socialista como algo do qual o capitalismo não poderá escapar por conta de sua própria natureza de exploração: surgirá o momento em que a Revolução tornar-se-á algo inevitável. É como se o pai da Revolução fosse o próprio capitalismo, e não devemos – nem podemos – tirar o seu “mérito”. Os meios de produção capitalistas, com o tempo, tendem a tornar-se frágeis e, nos nossos dias, podemos perceber que muito do que Marx profetizava se concretizou de alguma forma, o que explicita que Marx era mais que um mero “fututologista”, mas um estudioso das engrenagens de seu tempo e que teve a capacidade de olhar para além dele a partir do próprio, com todas as limitações inerentes à condição humana e às condições de seu tempo.
A revolução, para Marx, tornar-se-á inevitável por ser o desfecho provável do capitalismo, contudo dependerá de diversos fatores institucionais e sociais; dependerá de todo um amadurecimento do próprio capitalismo e de suas instituições, bem como a conscientização do proletariado. Nem Marx nem Engels preocuparam-se em saber detalhes de como seria essa revolução, ambos estavam mais preocupados em vivenciá-la.
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