sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Eros (Platão)

Uma das coisas mais belas é a sabedoria e Eros é amor pelo belo, de modo que é forçoso dizer que Eros é filósofo e, sendo filósofo, está entre o sábio e o ignorante

Platão

Platão começa relacionando a beleza com a sabedoria, ao passo que invoca a relação de Eros com a primeira. Uma vez que Eros representa o amor pelo belo (talvez a verdade, objeto de desejo do filósofo) surge a necessidade em Platão de diferenciar o mesmo de Eros, que não pode ser considerado um amante da sabedoria tão-somente por representar o amor pelo belo, o que seria por demais "forçoso".

Caso, porém, concebêssemos que Eros trata-se de um filósofo, o teríamos numa posição mediana, ou intermediária, entre o sábio - ou a verdade em sua plenitude - e a plena ignorância, ou seja, Eros está no meio do caminho e estático em relação aos dois extremos, sendo a conotação de sabedoria atribuída ao seu vínculo com o belo.

O "belo" é uma qualidade da sabedoria, assim como Eros é o amor pelo belo, o que não significa dizer que Eros se aproxima do todo [nesse caso, a sabedoria] mas só a uma característica dela, que por ser apenas uma parte de algo maior não pode ser considerada na plenitude, o que nesse caso seria o fato de ser ou não filósofo.

Portanto, pela sua relação com o belo e sendo este qualidade da sabedoria, Eros estaria entre a sabedoria e a ignorância.

sábado, 22 de agosto de 2009

Rapidinhas...



  • Sempre estamos buscando algo que dê sentido à existência.
  • A felicidade nunca é 100% plena, o que aniquilaria o desejo.
  • Nossa sociedade é religiosa, e amiúde num sentido extremamente negativo.
  • Antes de ser "bom" ou "mau", se é ético como condição para a existência.
  • Um "Moisés" nos nossos dias provavelmente seria diagnosticado como um esquizofrênico, com "ideação delirante sistematizada", "alucinações auditivas", "idéias de influências" e "discurso mítico", sendo recomendado permanecer em tratamento psiquiátrico continuado.
  • A filosofia bebe de argumentos não-filosóficos de diversas áreas. O chamamento para o pensar pode vir de várias fontes, até que adquira um 'trato' filosófico.
  • Temos uma tendência natural de enquadrar [rotular] as coisas. A confusão, pelo não-enquadramento inevitavelmente deixar-nos-á inquietos.
  • O homem constrói a cultura ou a cultura constrói o homem?
  • Alienação não está, necessariamente, vinculada à felicidade. Também pode estar perfeitamente associada ao sofrimento.
  • As diferenças são fundamentais, haja vista que "iguais" não podem evoluir.
  • Na fenomenologia, basta um acontecimento para tomá-lo como viável. Mas uma "coisa" também não tratar-se-ia de um fenômeno?
  • A psicologia é pragmática, baseada no empirismo. A grande questão não é uma busca do real, mas fundamentalmente a resolução de um problema individual. Para a psicologia, há o egoísmo, quando na Filosofia o homem é um animal profundamente ético. Não conhecer um homem generoso, por exemplo, não implica para a Filosofia que não possa ser possível existir um homem generoso.
  • A linguagem é uma tradução aproximada, às vezes tosca, do pensamento. A linguagem por si só não é o "índice" do ente.
  • O "cuidado" é anterior à consciência de cuidar-se.
  • Não basta a boa vontade humanitária de educadores bem-intencionados para promover a consciência crítica.
  • A Indústria Cultural tem justamente a função corruptora de criar falsos sujeitos, mediante a idolatria.

domingo, 16 de agosto de 2009

Autoridade ilegítima sobre mim

Não reconheço a lei da situação
Quando a vida estremece desde o princípio
Atordoando-me a razão
No suficiente porre que anestesia o ofício.

N'adoração de um povo pobre em maldição
Não retirareis de mim o lícito
E noutra terra, sem colaboração
Abandono o caos que tortura este município.

Não há irmão que a mão estenda. Então
A democracia tirana que sacia o malefício
Maneja a faca que dilacera Platão
Sem perceber iminente precipício.

Este povo pobre sem guarnição
Vê sua carne apodrecer e sorri por princípio
Corrobora neste país a anestesia da diversão
Corroendo a mente num tempestuoso vício.


Esta autoridade ilegítima sobre mim corrompe-me a voz; mantém seu poder através do medo e da auto-preservação, enquanto obriga-me a decidir quem terá o "direito" de mandar em mim pelos próximos anos. Nego-me a aceitá-los. Não concedo-lhes este poder e não tenho representantes nessa democracia prostituta.

A seguir, um texto interessantíssimo de Louise de La Vallière:
Na democracia, um partido sempre dedica suas principais energias tentando provar que o outro partido não está preparado para governar. Em geral, ambos são bem sucedidos e têm razão. A democracia substitui o compromisso feito por uma minoria pela eleição feita à mercê de uma maioria incompetente. A democracia constitui necessariamente um despotismo, uma vez que estabelece um poder executivo contrário à vontade geral. Sendo possível que todos decidam contra um, cuja opinião pode diferir, a vontade de todos não é, então, a de todos, o qual é contraditório e oposto à liberdade. A política dos governantes sábios consiste em esvaziar a mente dos homens e encher-lhes o estômago. Um povo que sabe demais é difícil de se governar. Aqueles que julgam promover o bem-estar de uma nação, espalhando nela a instrução, enganam-se e arruínam a nação. Manter o povo na ignorância: eis o caminho da salvação. Que é a democracia senão a arte de mentir a propósito? Há uma infinidade de erros políticos que, uma vez cometidos, tornam-se princípios. Quando a briga entre facções for intensa, o político se interessa, não por todo o povo, mas pelo setor a que ele pertence. Os outros são, na opinião deles, estrangeiros, inimigos, e até mesmo piratas. Não nego os direitos da democracia; mas não me iludo a respeito de como se fará uso desses direitos enquanto for escassa a sabedoria e abundar o orgulho. Os eleitores e os eleitos. Se estes são maus é porque aqueles são piores. A democracia é o processo que garante que não seremos governados melhor do que merecemos. A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que na democracia você pode votar antes de obedecer as ordens. A democracia não é mais que um poder arbitrário constitucional que substituiu outro poder arbitrário constitucional. Os políticos fazem política como as meretrizes fazem amor: por ofício. A democracia é a arte de mascarar de interesse geral o que não passa de simples interesse particular.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Vingança






Certa vez, conversando com um amigo, falávamos sobre "vingança" e ele me relatara alguns casos pessoais no qual foi vítima desse instinto humano. A conversa desencadeou na questão da própria natureza humana e de como a razão poderia ser capaz de alterar o rumo de nossas reações puramente instintivas.



No curso da história da humanidade, o sentimento de vingança esteve presente em todas as sociedades, e diversas atitudes foram motivadas por ele. É factual que a natureza humana tem um espaço cativo para a inveja e a vingança; dentre outros sentimentos perversos, porém podemos, por intermédio da razão e conseguinte reflexão, ponderar o sentido de reações motivadas por tais instintos e deixar que elas atrofiem-se em nós, em graus relacionados com a própria capacidade de raciocínio. Por outro lado, aquele com baixo estímulo à reflexão amiúde desemboca para uma personalidade de sentimentos primitivos, e falo não só de vingança e inveja, como também violência e intolerância.



Voltando à questão específica da vingança, Friedrich Nietzsche percebe como acontecimento mais significativo, motivado por ela, a revolução escrava acarretada pelo judaísmo e cristianismo sobre a casta dos nobres e guerreiros. Nessa vingança, voltada sobre os nobres, inverteram-se as premissas, os valores; antes o bom era o nobre; agora o bom é o comum. Isso é o que Nietzsche chama de transvaloração, um processo operado através de vingança por sacerdotes. Estes são homens que são condutores da massa e, segundo nosso autor, adulteradores da vida. O comportamento destes sacerdotes é marcado pelo asceticismo. Daí ser chamado de ideal ascético o local para onde é convertida a impossibilidade o ressentimento diante da vontade de poder/eterno retorno. Asceticismo é sublimação desse ressentimento em uma nova valoração, agora uma moral de escravos, não mais uma moral nobre. E a "nova" moral, para Nietzsche, é uma forma de os fracos dominarem os fortes.



Assim, a vida eternamente retorna como impulso para as realizações de suas possibilidades. Vida, segundo Nietzsche, é o “movimento sempiterno de diferenciação da vontade”, tendo este sempiterno o caráter do eterno retorno, que determina o instante em sua circularidade. Vontade de poder/eterno retorno diz respeito a toda e qualquer dimensão do acontecimento de realidade, narrando, enquanto existência a assunção fundamental da vida em sua cadência, vigência, instauração e propriedade. A vontade de poder não é somente essência, mas uma necessidade.