sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Vingança






Certa vez, conversando com um amigo, falávamos sobre "vingança" e ele me relatara alguns casos pessoais no qual foi vítima desse instinto humano. A conversa desencadeou na questão da própria natureza humana e de como a razão poderia ser capaz de alterar o rumo de nossas reações puramente instintivas.



No curso da história da humanidade, o sentimento de vingança esteve presente em todas as sociedades, e diversas atitudes foram motivadas por ele. É factual que a natureza humana tem um espaço cativo para a inveja e a vingança; dentre outros sentimentos perversos, porém podemos, por intermédio da razão e conseguinte reflexão, ponderar o sentido de reações motivadas por tais instintos e deixar que elas atrofiem-se em nós, em graus relacionados com a própria capacidade de raciocínio. Por outro lado, aquele com baixo estímulo à reflexão amiúde desemboca para uma personalidade de sentimentos primitivos, e falo não só de vingança e inveja, como também violência e intolerância.



Voltando à questão específica da vingança, Friedrich Nietzsche percebe como acontecimento mais significativo, motivado por ela, a revolução escrava acarretada pelo judaísmo e cristianismo sobre a casta dos nobres e guerreiros. Nessa vingança, voltada sobre os nobres, inverteram-se as premissas, os valores; antes o bom era o nobre; agora o bom é o comum. Isso é o que Nietzsche chama de transvaloração, um processo operado através de vingança por sacerdotes. Estes são homens que são condutores da massa e, segundo nosso autor, adulteradores da vida. O comportamento destes sacerdotes é marcado pelo asceticismo. Daí ser chamado de ideal ascético o local para onde é convertida a impossibilidade o ressentimento diante da vontade de poder/eterno retorno. Asceticismo é sublimação desse ressentimento em uma nova valoração, agora uma moral de escravos, não mais uma moral nobre. E a "nova" moral, para Nietzsche, é uma forma de os fracos dominarem os fortes.



Assim, a vida eternamente retorna como impulso para as realizações de suas possibilidades. Vida, segundo Nietzsche, é o “movimento sempiterno de diferenciação da vontade”, tendo este sempiterno o caráter do eterno retorno, que determina o instante em sua circularidade. Vontade de poder/eterno retorno diz respeito a toda e qualquer dimensão do acontecimento de realidade, narrando, enquanto existência a assunção fundamental da vida em sua cadência, vigência, instauração e propriedade. A vontade de poder não é somente essência, mas uma necessidade.

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