quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Especismo


Nicola Abbagnano, em seu Dicionário de Filosofia, define especismo como “termo polêmico usado por Peter Singer (...) e pelos filósofos animalistas para indicar a discriminação dos seres vivos com base na espécie a que pertençam. Discriminação que seria tão grave quanto a distinção dos seres humanos com base na raça (racismo) e no sexo (sexismo).”¹

A polêmica é natural quando alguma nova concepção filosófica ou científica faz-se presente por intermédio de argumentos racionais. Quando algo propõe-se a contestar a realidade ou o costume vigente, ela confronta padrões solidificados há bastante tempo, e no caso da moralidade isso se torna ainda mais grave. A ética, em geral, mexe com sentimentos profundos do ser humano, e das entranhas dos valores éticos e morais o ser humano constitui sua própria identidade, moldada e adaptada ao meio desde os seus primórdios, na infância. Quando esses valores são contestados, a reação dependerá da sensibilidade do receptor para determinadas questões – no nosso caso, éticas – para a assimilação através da percepção racional ou da refutação por intermédio de valores que se confundem com a própria identidade.

A lógica “animalista”, como se refere Abbagnano, é baseada em alicerces sólidos, lógicos e racionais. A condição de igualdade mesmo entre Homo sapiens precisa ser algo básico, que seja capaz de enquadrar todos os seres humanos capazes de ter aspirações, interesses, capacidade de relacionar-se com os outros, e assim por diante.

Para Peter Singer², um interesse é um interesse, seja lá de quem for – não importa a etnia, local de nascimento ou sexo. Só um princípio moral básico é capaz de englobar e enquadrar as diferenças dos homens, e aceitá-lo torna imperativo o estendermos para qualquer espécie que tenha as mesmas capacidades que possam lhes fornecer da mesma forma o direito à vida e o respeito ao seu bem-estar.

Para os abolicionistas, o ser humano no estágio atual de desenvolvimento tecnológico não precisa mais matar outros indivíduos para garantir a sobrevivência. Eles acusam os especistas de financiarem, através do hábito, o assassinato de milhões de seres senscientes e com os mesmos interesses dos seres humanos, como não sentir fome, ter bem-estar, ter uma vida social saudável, não sentir dor, etc. Estes fundamentos são baseados, em grande parte no utilitarismo de Peter Singer.


¹ ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
² SINGER, Peter. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes, 2006.