Nicola Abbagnano, em seu
Dicionário de Filosofia, define especismo como “termo polêmico usado por Peter
Singer (...) e pelos filósofos animalistas para indicar a discriminação dos
seres vivos com base na espécie a que pertençam. Discriminação que seria tão
grave quanto a distinção dos seres humanos com base na raça (racismo) e no sexo
(sexismo).”¹
A polêmica é natural
quando alguma nova concepção filosófica ou científica faz-se presente por
intermédio de argumentos racionais. Quando algo propõe-se a contestar a
realidade ou o costume vigente, ela confronta padrões solidificados há bastante
tempo, e no caso da moralidade isso se torna ainda mais grave. A ética, em
geral, mexe com sentimentos profundos do ser humano, e das entranhas dos valores
éticos e morais o ser humano constitui sua própria identidade, moldada e
adaptada ao meio desde os seus primórdios, na infância. Quando esses valores
são contestados, a reação dependerá da sensibilidade do receptor para
determinadas questões – no nosso caso, éticas – para a assimilação através da
percepção racional ou da refutação por intermédio de valores que se confundem
com a própria identidade.
A lógica “animalista”,
como se refere Abbagnano, é baseada em alicerces sólidos, lógicos e racionais. A
condição de igualdade mesmo entre Homo
sapiens precisa ser algo básico, que seja capaz de enquadrar todos os seres
humanos capazes de ter aspirações, interesses, capacidade de relacionar-se com
os outros, e assim por diante.
Para Peter Singer², um interesse é um
interesse, seja lá de quem for – não importa a etnia, local de nascimento ou
sexo. Só um princípio moral básico é capaz de englobar e enquadrar as
diferenças dos homens, e aceitá-lo torna imperativo o estendermos para qualquer
espécie que tenha as mesmas capacidades que possam lhes fornecer da mesma forma
o direito à vida e o respeito ao seu bem-estar.
¹ ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
² SINGER, Peter. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes, 2006.