Não podemos concluir
absolutamente nada sem uma evidência, seja no empirismo ou no racionalismo. Algo que parta de uma mera
necessidade de conforto, por exemplo, jamais pode servir como premissa
de alguma conclusão válida. O
fato é que não há quaisquer indícios pra imaginar uma entidade
criadora, especialmente nos nossos dias, cuja prioridade do conhecimento
é o entendimento dos fenômenos através da empiria da metodologia
científica. A metafísica foi abandonada
justamente por não ser capaz de desenvolver conhecimentos palpáveis, que
possam ser evidenciados. Não há na contemporaneidade mais qualquer
sentido em continuar tentando interpretar o mundo metafisicamente.
Não há
provas contra a existência de tudo que podemos imaginar: se eu jurar que
existem unicórnios no sub-solo de Marte, alguém jamais vai conseguir provar que
eles não existem. Contudo, ninguém em sã consciência pode achar razoável
que isso seja real. A única coisa que faz com que uma entidade divina
ganhe privilégio em relação a tudo que possamos imaginar, como por
exemplo o monstro do espaguete voador, unicórnio rosa invisível, etc., é
justamente a necessidade que tinha a humanidade de conhecer e compreender o mundo
que se explicitou nos primórdios através das religiões e permanece até
hoje, com os mitos atuais; bem como a necessidade de conforto pessoal e
de algo que alivie a angústia a priori de se sentir finito e só no
mundo. Uma vez, contudo, que já temos condições técnicas de realmente
compreender o mundo através do conhecimento verificável, através de
evidências que nos permitem tirar conclusões confiáveis, ao contrário
dos mitos, não há mais sentido em tentar compreender o mundo
metafisicamente - isso já é inclusive um ponto pacífico na Filosofia
Contemporânea. A principal diferença entre o conhecimento religioso e o científico
é justamente a origem dos mesmos: o científico é empírico, verificável e revisionista e daí vem a sua credibilidade. Assim como o conhecimento
filosófico pode ser uma chave para uma compreensão efetiva da
coisa-em-si, pois a ciência não abrange suficientemente temas como Ética, Estética e a própria
Lógica, que flutua entre a Filosofia e a Ciência. Portanto,
os conhecimentos com algum grau de credibilidade e revisionistas que nós
temos são justamente o científico e o filosófico, desde que não esteja
contaminado pela Metafísica pura, que tem sua importância histórica mas
foi substituída pelo conhecimento verificável.
Epistemologicamente, de que maneira tenho
condições de utilizar-me da dedução, ainda que do ponto de vista da
lógica aristotélica, para extrair conclusões a respeito daquilo que vejo
no mundo? Compartilho da
posição de Shopenhauer, que ao meu ver é até uma conseqüência das
meditações cartesianas. Para "Tio Shopa", o mundo é representação do
sujeito. A terra e o sol são representações do sujeito. O mundo
circundante somente existe (da forma como o concebo) como representação.
Tudo o existe para o conhecimento, isto é, o mundo inteiro, nada mais é
do que o objeto, que é uma representação. O mundo é representação nossa
e nenhum de nós pode sair de si mesmo para ver as coisas como elas são.
Tudo aquilo que temos conhecimento se encontra dentro de nossa
consciência. Partindo do princípio que eu só posso "julgar" o mundo a
partir da minha própria representação (que pode tornar-se factual
através de indução, dedução, interpretação, etc.) tenho como ir formando
a minha visão de mundo. E é dessa maneira também que compreendemos a
priori vários fenômenos da natureza. A
partir do momento em que a origem do meu ponto de vista não é
racionalista, mas empirista, é claro que há também uma base
histórica para a minha conclusão, afinal, é justamente aquilo que me
parece, aquilo que percebi ao meu redor e concluí, a posteriori, através
do intelecto. Em Marx, a origem do conhecimento relaciona-se inversamente à alienação que proporciona o ato da fé [de não
compreender, não questionar, aceitar e acreditar que isso é uma virtude]
e relaciona-o, necessariamente, às relações do Estado.
Não é minha intenção, aqui nestas linhas, de limitar o conhecimento válido ao
empirismo. Talvez isolando algum trecho em que abordei o conhecimento
científico e filosófico fosse possível deduzir isso, mas não é verdade
quando se observa todo o contexto: eu não descarto os conhecimentos
não-empíricos, obviamente, como a Lógica, a Epistemologia, e dentre outros, até mesmo a Ética, que pode ser pensada tanto na empiria quanto no racionalismo. O que eu
reitero - e não sou o único, como disse, isso é ponto pacífico na Filosofia
Contemporânea - é que a Metafísica não é uma área que continua a ser
abordada simplesmente por que não há mais sentido, hoje, em pensar o
mundo metafisicamente, já que imaginar algo que jamais vai ser
demonstrado é como andar numa esteira. Temos, com o método científico,
maneiras mais eficazes de compreender a Natureza e a origem da matéria. De fato, o conhecimento científico é empírico, revisionista e tem
credibilidade em relação ao conhecimento religioso justamente por fazer
mais sentido. A religião, como nos diz o emblemático cientista Richard Dawins, faz com que 'fiquemos satisfeitos em não
compreender o mundo'; e duvidar disso é já não ter fé a priori. Ora, os
mitos já fizeram seu papel na história da humanidade, mas hoje não
precisamos mais nos apegar desesperadamente a esses princípios que não
exploram o potencial humano em desenvolver maneiras mais eficazes de
compreender a coisa-em-si. O
método científico não é engessado e já foi diversas vezes aprimorado
desde o seu princípio no século XIX. A questão é essa: a ciência não tem
- e nem pretende ter - todas as verdades do mundo, mas ela se propõe a
pesquisá-las. E buscar respostas que façam sentido.
O que promove o
'conhecimento' religioso, que não sejam medo da morte, busca de
conforto, medo do inferno... fé? Concordo que nada deveria existir - por
que as coisas existem? Essas questões estão cada vez mais próximas de
um entendimento através da racionalidade científica, quando por exemplo
nos explica o físico Peter Atkins que a soma de toda a matéria existente
tende a zero. A cada novo passo da ciência no entendimento do mundo,
perde mais e mais sentido imaginar o mundo metafisicamente e não é por
acaso que pesquisas indicam que cada vez mais, menos pessoas se apegam à
religião nos países com maiores índices em Educação, como aqui no
Canadá, em que várias igrejas foram fechadas e em seus lugares temos
museus, bibliotecas e até casas de show. Não há conhecimento válido quando alguma conclusão é engessada em sua origem por pressupostos (Ex.: Deus existe e Jesus é seu porta-voz. De que maneira poderemos ajustar nossos conhecimentos para que não haja contradição com essa verdade? É o que faz a Teologia, a pseudo-ciência de verdades absolutas).
O abandono da metafísica como 'conhecimento válido' se deu muito gradualmente, após mais de dois mil
anos de Filosofia. O desenvolvimento do método científico apenas
desligou os aparelhos de uma metafísica que já se encontrava na UTI. O revisionismo
está na própria natureza do conhecimento válido: ele não nasce pronto e
acabado como a fé, ele é construído. Então até que uma tese científica
seja válida ela vai passar por todo um processo de aprimoramento até que
vire uma lei ou teoria (não no sentido de hipótese). E aí temos,
novamente, razões para entender a credibilidade do princípio da razão e
da ciência em detrimento do não-questionamento das coisas (fé). A verdadeira virtude é questionar.
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