A Ética, em geral, é tida como a parte da Filosofia dedicada aos estudos dos valores morais e princípios ideais do comportamento humano. É a disciplina crítico-normativa que estuda as normas do comportamento humano, mediante as quais o homem tende a realizar na prática atos identificados com o bem e a justeza. Em geral, relacionamos a Ética com a virtude e o bom caratismo. A distinção do que é bom ou mau, do que é correto ou incorreto, dá-se pelo conceber Ético que envolve os costumes do tempo daquele que julga tais valores que, por sua vez, também são mutáveis através dos tempos.
É papel da Filosofia permanecer em vigília a respeito dos dilemas éticos já que, novas tecnologias estão sempre nos pondo perspectivas diferentes a respeito do que possa ser moralmente válido. Um exemplo disso é o conceito de morte cerebral, tão utilizado nos nossos dias devido à capacidade de estendermos uma vida em estado miserável e/ou vegetativo quase que indefinidamente, levantando questões sobre a utilidade da eutanásia como um bem tanto para aqueles que sofrem em leitos de hospitais e os que sequer sofrem por não possuir mais quaisquer capacidades para tal, tampouco para sentir prazeres. Todos os temas éticos do nosso tempo, enfim, ganharam novas conotações no nosso tempo; não apenas a eutanásia em benefício dos que sofrem mas também temas como aborto, obrigação dos ricos para com os pobres, as condições de igualdade, o especismo, a dessacralização da vida humana, entre outros.
Na Filosofia Clínica, conflitos e paradoxos podem ser elementos que assegurem a Ética. O paradoxo, nesse caso, é contingente, mas pode ser que assegure o equilíbrio numa ética da alteridade. Em suma, o contraditório nesse caso não é necessariamente excludente. A ética aparece no fazer filosófico de maneira intrínseca: o (verdadeiro) filósofo sempre vai ter a postura ética de dizer: 'eu posso estar equivocado'. Na Filosofia Clínica, o entendimento desse aspecto é fundamental para adentrar no mundo do partilhante a partir da sua identidade - que não seria, nesse caso, o primeiro olhar sobre o partilhante; isso poderá acontecer depois da investigação de sua historicidade. Em Filosofia Clínica, vamos chamar de "Identidade de Estrutura do Pensamento (EP)", que não é uma primeira impressão, mas fruto deste mergulho posterior no que nos foi apresentado através dos relatos da historicidade ou, se for o caso, de outra maneira de captar esta última. O fato de que o filósofo clínico sabe que "pode estar errado" em seus pré-juízos permite-o adentrar neste novo universo do outro - e isso é uma postura fundamentalmente ética. A EP é justamente a identidade de alguém, o "eu" em seu registro histórico, no que se conclui que o terapeuta nunca saberia da identidade de alguém fora da história do partilhante - narrada por ele mesmo.
Na ética da alteridade, a análise é um recurso útil, mas nunca vai substituir o outro. Verdade analítica não é a autenticidade do outro, mas o fragmento morto do outro - e isso encontramos em Bergson, para o qual nós não temos o outro, mas a memória em recorte dele. Então, quando o filósofo clínico analisa o partilhante, disseca-o, "mata-o", "corta-o" em pedaços e está tudo bem, desde que ele saiba que isto é sua própria análise e não o outro com exclusividade. O outro não é a estrutura de pensamento que temos dele mediante análise. Esta é apenas - e com grande importância - um recurso didático e terapêutico importante de aproximação do outro. Para Lévinas, só temos boa compreensão do outro quando temos ética de cuidado, e não quando analisamos o outro.
Na autonomia, temos a postura ética intrínseca ao desalienarmo-nos das coisas - e todo ato pessoal é sabidamente um ato responsável perante o mundo. É uma condição fundamental ao terapeuta, já que, segundo Will Goya, "a alienação nega a alteridade".
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