segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A República, Livro IX

Definição e conceituação de ‘desejo’ em Platão
Para Platão, dentre os prazeres e os desejos não necessários, alguns são ilegítimos. Contudo, tais prazeres são inatos de cada ser e, para reprimi-los, existem as leis. Os desejos melhores, com o auxílio da razão podem ser totalmente extirpados em alguns ou ficarem subjugados, enfraquecidos e reprimidos em alguns, assim como ficarem em pequeno número; ao passo que nos outros subsistem mais fortes e em maior número.
Àqueles que despertam-se para os desejos bons, na parte da alma que é racional e benigna, cabe-lhes comandar a outra parte, que é bestial e selvagem e que após saciados prazeres animalescos, parte em busca da satisfação de sua má índole. Nesses casos, não há equilíbrio e a alma tudo ousa, sem qualquer vergonha ou prudência.
Esse homem bestial não tem qualquer sentimento de culpa em relação ao incesto ou em relação a qualquer relação que seja, desde o animal ou a algum deus, alimenta-se de qualquer coisa e sua imprudência o impede de ter juízo sobre tais valores.
Já o homem cujo elemento racional despertou-lhe a alma, é alimentado por belos pensamentos e nobres especulações, pensando a respeito de si mesmo, no momento em que media seus desejos sem entregar-se à simples e pura concupiscência, a fim de que se mantenha em repouso e não cause perturbações. O elemento cultural é evidente na descrição platônica a respeito do homem que cobra sensatez de seus instintos. Este homem, de pensamentos equilibrados e de todas as outras virtudes descritas, esforça-se por aprender do que ignora.
Este homem toma controle de seu instinto irascível, e nesse pensamento não é tomado de ira por quem quer que seja. “Quando acalmou estes dois elementos da alma e estimulou o terceiro, em que reside a sabedoria, e, por fim, repousa, (...) toma contato com a verdade melhor do que nunca, e as visões dos seus sonhos não são de modo nenhum desregradas”. (292) É imperativo notar que a sabedoria não aporta naturalmente a partir daí, há nela uma necessidade de “estímulo”, para que seja alcançada.
Não se pode esquecer do ponto fundamental a que chega Platão: de que, mesmo nos mais regrados, há neles intrinsecamente desejos que podem ser considerados terríveis, selvagens e sem leis, e tal selvageria pode ser encontrada também nos sonhos.

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