Ao formular qualquer filosofia, a primeira consideração
sempre deve ser: O que nós podemos conhecer? Isto é o que nós podemos ter
certeza de conhecer ou de saber que conhecemos, desde que seja algo conhecível,
é claro. Ou será que já esquecemos e estamos apenas com vergonha de admitir?
Descartes roçou o problema quando escreveu: Minha mente
nunca poderá conhecer o meu corpo, embora tenha ficado bastante íntima de
minhas pernas. E, antes que me esqueça por "conhecível" não me refiro
ao que pode ser conhecido pela percepção dos sentidos ou ao que pode ser
captado pela mente, mas ao que se pode garantir ser conhecido por possuir características que chamamos de
Conhecibilidade pelo conhecimento - embora todos esses conhecimentos possam ser
ditos na frente de uma senhora.
Será que podemos realmente "conhecer" o universo?
Meu Deus, se às vezes é difícil sairmos de um engarrafamento!
O problema, no fundo, é: há alguma coisa lá? E por que? E por que tem que fazer
tanto barulho? Finalmente: não há dúvida de que uma característica da
"realidade" é a de que lhe falta substância. Não quero dizer com isso
que ela não tenha substância, mas apenas que lhe falta. (A realidade de que
estou falando aqui é a mesma que hobbies descreveu, só que um pouquinho menor).
Logo, o dito cartesiano "Penso, logo existo" seria
melhor expresso na forma de "Olhe, lá vai Edna com o saxofone!". Do
que se deduz que, para conhecer uma substância ou idéia, devemos duvidar dela
é, ao duvidar, chegamos aperceber as características que ela possui em seu
estado finito, as quais são "por si mesmas" ou "de si
mesmas" ou de qualquer outra coisa que não tem nada a ver. Se is to ficou
claro, podemos deixar a epistemologia de lado provisoriamente, e mudar de
assunto.
O texto de Woddy
Allen inicia propondo uma análise epistemológica de possibilidade; outrossim
questionando o que é que nós (referindo-se, provavelmente, à espécie humana)
seríamos capazes de apreender no intelecto. Ele então especifica de que se
trata de algo que nós tenhamos certeza de conhecer (lembra-nos o único
conhecimento infalível para Descartes, o qual afirma que ele, que pensa e age
naquele instante, existe - então a existência de si é um fato). A reflexão a
seguir já começa a dar indícios de Intencionalidade Dirigida,
quando ele, através da suposição, busca incutir no leitor a hipótese que a
informação foi perdida e que simplesmente estamos com vergonha de admitir este
fato.
O autor, finalmente,
cita o próprio Descartes e esclarece que o que considera por “conhecível” – a
priori, informação adquirirda e processada pelo intelecto – não se refere aos
dados empíricos e nem mesmo racionalistas, já que ele também refuta quaisquer dados
que possam ser captados pela mente. Para essa afirmação curiosa, aparentemente
até mesmo sem sentido, ele direciona o leitor para uma terceira via
utilizando-se da Intencionalidade Dirigida: cria um conceito que chama de “Conhecibilidade”
pelo conhecimento, conceito este que poder-se-ia ser entendido por qualquer um.
Ou eu não fui capaz de compreender o autor muito bem ou é extremamente vaga e
superficial, permita-me afirmar, a argumentação de Woody Allen. Ele utiliza-se
da Intencionalidade Dirigida sem, contudo, indicar um caminho sustentável. Esse
é um dos cuidados que devemos ter na prática clínica – é claro que Allen não é
o meu terapeuta e portanto não tem a minha Historicidade em mãos – mas uma
Intencionalidade Dirigida precisa ser pensada e cuidadosamente inserida no
processo terapêutico para não ser capaz de pôr tudo a perder, inclusive a
confiança no filósofo clínico. Mais uma vez se faz necessário o estudo da
Historicidade e compreensão da Estrutura do Pensamento para minimizar as hipóteses de erro e, quando
necessário, poder utilizar-se das ferramentas disponíveis na Filosofia Clínica
com critérios bem definidos.
O texto de Allen
segue falando de coisas triviais, como por exemplo se somos ou não capazes de
conhecer alguma coisa de fato – um dos problemas epistemológicos clássicos da
Filosofia. Cita exemplos do cotidiano e, por fim, cita que à aparente
realidade, na qual ele se refere bem utilizando as aspas, falta “substância”.
Ou, ao menos, não temos acesso a essa substância, como pude entender pela
explicação posterior. Deste ponto de vista, surge outro contorcionismo raso: ele
minimiza o “Penso, logo existo” de
Descartes relacionando-o com outra coisa qualquer. Com isso, através de
Intencionalidade Dirigida, ele tira completamente o sentido de veracidade do
que para Descartes seria a única coisa irrefutável capaz de ser conhecida.
Allen argumenta que,
se para conhecer uma substância ou idéia, devemos duvidar dela, e ainda assim o
conhecimento a respeito das mesmas não é confiável, devemos então abandonar
completamente a Epistemologia. Na análise do autor, é perda de tempo pensarmos
a respeito da coisa-em-si, já que esta é inatingível. O uso da Intencionalidade
Dirigida por parte de Woody Allen, para mim, seria ineficaz, já que não é
novidade que não temos acesso à substância ou à realidade absoluta das coisas,
mas a investigação racional pode nos aproximar delas ou ao menos nos apresentar
dados mais confiáveis do que se simplesmente “mudarmos de assunto”. Essa
postura que ele apresenta, ao meu ver, é até perigosa pois trata de maneira
jocosa tudo aquilo que nós temos por conhecimento epistemológico.
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