Formato: diálogo.
Personagens principais: Sócrates, Glauco (filho de Aríston), Polemarco (filho de Céfalo), Céfalo, Trasímaco de Caledônia.
Personagens scundários (e/ou apenas citados): Adimanto (irmão de Glauco), Nicerato (filho de Nícias), Lísias (irmão de Polemarco), Eutidemo (irmão de Polemarco), Carmantides de Penéia, Clitofonte (filho de Aristônimo), o “servo” de Polemarco.
A narrativa se passa predominantemente em primeira pessoa do singular, alternando algumas vezes para a primeira pessoa do plural, quando refere-se a Sócrates e Glauco.
Numa inicialmente calorosa conversa sobre o que venha a ser “justiça”, Sócrates, Céfalo (e posteriormente seu filho, Polemarco) divagam através da tradicional maiêutica socrática.
Dentre idas e vindas, sempre se tentando chegar a uma conclusão satisfatória, Sócrates questiona Polemarco sobre a fatual função/utilidade do “ser justo”, donde pressupunha-se que justiça seria a prática do bem em relação aos amigos e/ou honestos e que igualmente justo seria prejudicar os inimigos e/ou desonestos. Estas variáveis, entre outras menos importantes estão presentes na primeira metade do diálogo.
Contudo, Trasímaco intervém furiosamente, alegando, por exemplo, que Sócrates não deve fazer tantas perguntas, mas sim satisfazê-los com respostas. Procede que Sócrates amiúde utiliza-se de sua habitual ironia; demonstra-se desejoso de conhecer a verdade e solicita de Trasímaco uma resposta para aquelas questões pertinentes.
Ao Trasímaco afirmar que o justo é o levar vantagem sobre os hierarquicamente mais fracos – fala-se em governos e leis – Sócrates questiona as intenções dos governantes, que podem fazer leis boas ou más, pois são passíveis de se enganarem; e Trasímaco forçosamente há de concordar.
No desenrolar do diálogo, Sócrates faz Trasímaco chegar à seguinte conclusão: “também justo é fazer o que é desvantajoso para os governantes e para os mais fortes, quando os governantes, inadvertidamente, dão ordens que lhes são prejudiciais, porquanto tu afirmas ser justo que os governados façam o que ordenam os governantes (...), não decorre necessariamente que é justo fazer o contrário daquilo que dizes? Com efeito, ordena-se ao mais fraco que faça o que é prejudicial ao mais forte”. (21-22)
Trasímaco, laconicamente considerou ser justo o que é vantajoso para o mais forte. Todavia, com o desenrolar do raciocínio, Sócrates fê-lo concordar que toda arte e ciência não existe para si mesma, e sim para o sujeito da qual ela exerce sua função. Desse contexto à analogia do Estado, foi breve.
O sofisma de Trasímaco, porém, o mantém firme em sua posição de que o injusto, com seus devidos privilégios, é mais feliz e pleno em relação ao justo, e passa a recusar-se a contra-argumentar após proferir longo discurso parodiando a linguagem sofista.
Na aparente ausência de sentido no discurso de Trasímaco, Sócrates insiste em afirmar que os governantes governam para os governados, e não para eles próprios. Sócrates menciona três formas de salário aos que concordam em governar: dinheiro, honra ou castigo, “se por ventura se recusarem” (30). Refere-se a ele como o salário dos melhores, denominando tais governantes de virtuosos quando se resignam a fazê-lo; ao passo que considera o amor à honra e ao dinheiro como algo vergonhoso. Homens de bem, segundo ele, não devem governar nem por honra nem por dinheiro. Portanto, sem ambição e lucro, é necessário que haja “obrigação e castigo” para governar.
Tomar o poder de livre vontade, sem que a necessidade a isso obrigue, pode ser considerado vergonha, “e o maior castigo consiste em ser governado por alguém ainda pior do que nós, quando não queremos ser nós a governar”. (30)
Após alguns rodeios através dos sofismas de Trasímaco, Sócrates, através de sua brilhante interrogativa, dilacera as contradições de seu oponente, uma a uma. Relutantemente, Trasímaco admite a possibilidade de que o justo assemelha-se ao homem sábio e bom, e o injusto ao homem mau e ignorante; associando-se a justiça à virtude e a injustiça ao vício.
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